sábado, 21 de março de 2009

Avaliação em UTI. Passagem de plantão (parte 2)

Na tentativa de esclarecer um pouco mais este assunto, formulei algumas perguntas abaixo e enviei-as ao Dr° Haroldo Falcão, médico intensivista e autor do blog: Apontamentos em Terapia Intensiva. Este profissional, além de muito competente, reflete muito sobre questões didáticas e éticas na área médica. Vale muito a pena consultar o seu blog.

1. Qual a ordem hierárquica das informações a serem passadas na mudança de plantão?

Haroldo: Inicialmente o nome e a idade, seguido de um breve histórico no CTI, mas sem entrar nas minúcias de cada um dos problemas do paciente. Seria um histórico com as feições de uma "linha do tempo", como já apresentei em uma postagem anterior. É importante também, a meu ver, apresentar qual a impressão defendida pela rotina médica e sua impressão durante o plantão, que devem ser encaradas como hipóteses a serem testadas a medida que novas informações confirmem ou contradigam o entendimento sobre o paciente naquele momento.

2. Informações qualitativas e impressões pessoais são mais apreensíveis que as quantitativas?

H: Eu diria que elas podem ser mais convincentes...e aí mesmo está o perigo. Voltando à primeira pergunta, não se trata de "vender" a minha ou a melhor visão sobre o paciente, mas em se confirmar ou não as hipóteses elaboradas sobre o caso clínico. O paciente está melhor? Que dados confirmam isto? Ele esta pior? Quais informações objetivas corroboram esta impressão?

3. Devemos falar sobre pacientes mais graves primeiro ou seguimos a ordem dos leitos?

H: Imagino que seria mais apropriado apresentar os mais graves primeiro. Quem recebe o plantão também tem um limite de acúmulo de informações (por exemplo, prestar atenção nas informações sobre o leito 11 não é tão fácil quanto no leito 2, principalmente quando o colega que deixa o plantão precisa sair mais rápido, ou nas passagens de plantão noturno).

4. Quando é necessário fazer um resumo retrospectivo do caso?

H: No meu modo de organizar informações, sempre acho importante uma "contextualização". Alguns pacientes se encaixam em categorias bem conhecidas de quem trabalha em CTI, por exemplo, o paciente demenciado, com sepse pulmonar por boncoaspiração, tratada e revertida, e que está em desmame após traqueostomia...Nesses casos podemos ser mais sucintos mas, não raro, nos deparamos com situações inesperadas que merecem um detalhamento maior. Saber quais informações "compactar" e quais "desenvolver"é, para mim, uma arte...

5. A passagem à beira do leito é melhor que a realizada na sala de plantão? Por quê?

H: O meu sonho é passar o plantão leito a leito, já evoluindo e prescrevendo. Seria a situação ideal de continuidade do fluxo de informações, mas desconheco se alguma unidade opera desse modo. Se existe, gostaria de conhecer. Penso que a passagem à beira do leito - nem que fosse um "sobrevôo" - com as devidas complementações à parte, na sala dos médicos seria uma meta modesta e factível. Mas seja na beira do leito, seja na salinha, vejo os profissionais que passam o plantão como os responsáveis pela manutenção de um eixo narrativo coerente e fiel, com a missão especial e difícil de tornar a informação clara para quem chega. Espero ter respondido a contento as suas perguntas. Fiquei muito honrado e deixo meu abraço e os parabéns ao seu belo trabalho neste blog.

Muito obrigado Haroldo! Gostei muito da tua colaboração com este tema, para mim trouxe exclarecimentos importantes. Espero que os leitores deste blog reflitam sobre estas informações e apliquem nos seus serviços, pois estou certo que elas ajudarão a melhorar muito a maneira de se passar as informações sobre os pacientes de UTI.

Aguardem o encerramento deste assunto na próxima postagem.

Abraços a todos.

Um comentário:

Daniela Modesto disse...

Olá Daniel, parabéns pelas matérias!!!
Terminei minha pós-graduação à um mês, e nos hospitais em que realizei estágio a passagem de plantão é realizada leito a leito o que realmente ajuda muito em todos os aspectos.