quinta-feira, 2 de abril de 2009

Avaliação em UTI. Exame físico.

Após receber o plantão, se não houver intercorrências, o fisioterapeuta inicia o EXAME FÍSICO do paciente. Originalmente, este exame é dividido em INSPEÇÃO (exame visual), PALPAÇÃO (toque manual e digital), PERCUSSÃO (digitopercussão) e AUSCULTA (ouvir com um estetoscópio).

Na UTI é difícil realizar o exame físico na sua forma tradicional. Muitos dados colhidos vem dos aparelhos de monitorização (monitor cardíaco, oxímetro, capnógrafo...) e também do respirador (mecânica SR, interação paciente-máquina, auto-PEEP...). O exame do paciente geralmente é realizado em associação a estas informações.

Normalmente as primeiras informações colhidas do paciente na UTI vem dos monitores. Os valores são mostrados em tamanho grande para facilitar sua visualização: Os principais registros são: os sinais vitais (SV) :PA, FC, FR e Tax , o eletrocardiograma (ECG) e a saturação de pulso de oxigênio (SpO2). O uso freqüente dos oxímetros de pulso em UTI, fez com que alguns autores passassem a considerá-lo como o 5º sinal vital. Todos estes dados geralmente são aferidos de forma não invasiva e mostrados na tela do monitor. Para a PA, existe a possibilidade de se instalar um cateter arterial para monitorização invasiva contínua. Com exceção da PA não invasiva, que é aferida automaticamente em períodos regulares programados no aparelho, todos os demais dados são contínuos. O último valor da PA não invasiva fica registrado na tela, é possível realizar uma aferição dela a qualquer momento através do acionamento de um botão específico. Os monitores mais modernos podem armazenar todas estas informações por um período de 24 horas ou mais, isto possibilita a verificação da tendência evolutiva destas informações.

Alguns autores preferem realizar o exame físico do paciente separando por segmentos numa ordem céfalo-caudal. Esta divisão também pode ser estendida para pacientes com via aérea própria e com via aérea artificial (VAA), com ou sem ventilação mecânica.

O exame físico do paciente começa pela observação do nível de consciência. Inicialmente verificamos se o paciente está vigil ou não e se está calmo ou agitado. A capacidade de interação é avaliada por meio da estimulação verbal (realização de perguntas simples). Para os pacientes despertos ou os que despertam com facilidade e que não estão com uma via aérea artificial, devemos realizar algumas perguntas simples, como por ex.: O senhor (a) consegue me ouvir?, O senhor (a) consegue movimentar os braços e as pernas?, Qual é o seu nome? E a sua idade?, O senhor (a) sabe aonde está?, Sabe o motivo da sua internação?, Que dia é hoje?, Está sentindo algum desconforto?... Os com VAA, mesmo despertos, não conseguirão falar mas poderão responder através de gestos e movimentos dos membros.

De acordo com a capacidade de interação dos pacientes podemos classificá-los como: orientados (despertos e coerentes), confusos (incoerentes e com baixa capacidade de percepção do meio), delirantes (agitados, irritados e que exibem alucinações), letárgicos (sonolentos, respondem apropriadamente quando acordam mas dormem com facilidade), obnubilados (despertam com mais dificuldade, podem responder com coerência algumas perguntas mais óbvias), torporosos (não despertam por completo às solicitações verbais, apresentam atividade mental e física diminuídas e reagem a dor) e comatosos (permanecem inconscientes, não respondem aos estímulos táteis e dolorosos voluntariamente e podem exibir sinais de disfunção neurológica suprasegmentar - reflexo de Babinsk, hiperreflexia...)

Os letárgicos e obnubilados, geralmente necessitam de estimulação tátil leve para despertarem. Os torporosos normalmente reagem aos estímulos táteis mais vigorosos e dolorosos menos intensos. Os comatosos podem não reagir a dor. A estimulação tátil deve ser feita em conjunto com as perguntas (ex. percussão da glabela ou sobre a região esternal enquanto se realiza as perguntas). A estimulação dolorosa, quando necessária, deverá ser feita sem provocar lesões cutâneas.

Em UTI, a baixa responsividade pode estar associada aos efeitos de drogas, devemos observar se há infusão de drogas depressoras do SNC e as suas doses, se houver devemos proceder a avaliação utilizando uma escala de sedação (Escala de Ramsay, por exemplo). Nos casos de coma, na ausência de sedação, devemos avaliar o paciente utilizando uma escala própria (ex. Escala de Coma de Glasgow).

Avaliação por segmentos:

1. Exame da cabeça e pescoço.

Nos pacientes com via aérea própria, a inspeção da face pode revelar alguns sinais de insuficiência respiratória como: batimento de asa de nariz, cianose central e respiração com frenolabial.
A coloração e a hidratação das mucosas, se ressecada e hipocorada, podem sinalizar alterações na perfusão tecidual e no hematócrito. Pacientes impossibilitados de se alimentarem por via oral normalmente recebem sonda naso ou oroenterais para infusão de dietas. Nos casos de distensão abdominal por aumento do resíduo gástrico é comum a colocação de uma sonda naso ou orogástrica para drenagem do excesso do volume. A checagem da fixação destas sondas antes do manuseio destes pacientes reduz o risco de desposicionamento das mesmas, portanto, reduz a possibilidade de complicações como broncoaspirações de dietas e resíduos gástricos.

A inspeção e a palpação do pescoço permitem determinar: a posição da traqueia (desvios laterais podem ocorrer nas atelectasias e pneumotórax significativos), se há aumento da pressão venosa jugular (turgência com paciente sentado ou cabeceira a 45º), se há enfisema subcutâneo (crepitação à palpação e ausculta), presença de edema (cacifo)... Na IRpA, é possível observar atividade do ECOM e depressão da cartilagem tireóide durante a inspiração. Alguns acessos venosos são instalados na veia jugular para infusões de líquidos e medicamentos, a checagem prévia da sua fixação e funcionamento ajudam a prevenir desconexões e obstruções das infusões antes da sua mobilização.

No paciente com via aérea artificial - VAA que recebe O2 ou ventilação mecânica invasiva, devemos descrever o tipo (TOT, TNT ou TQT), verificar a fixação, a vedação (escape de gás) do cuff e o posicionamento (altura para TOT ou TNT). Na ventilação mecânica não invasiva - VNI, verificamos se a interface (máscara, pronga...) está adequada e bem fixada, se há lesões cutâneas ou nas córneas, escapes de ar, conforto do paciente...

2. Exame do tórax e pulmões.

A inspeção do tórax à beira do leito de UTI se dirige principalmente para a atividade muscular ventilatória (trabalho respiratório, uso de musculatura acessória e sincronia tóraco-abdominal) e expansibilidade torácica (simetria). A colocação das mãos simetricamente sobre cada hemitórax auxilia a inspeção durante o exame da expansibilidade torácica.

A palpação permite avaliar, através do tato, o frêmito vocal durante a verbalização dos pacientes orientados sem VAA. Naqueles em VM podemos sentir a vibração das secreções durante a movimentação gasosa. Quando há pneumotórax, podemos palpar o pele para pesquisar enfisema subcutâneo.

É comum a utilização da veia subclávia para infusão de medicamentos, os mesmos cuidados devem ser tomados com este acesso para evitar acidentes.

A percussão da parede torácica produz um som e uma vibração palpável que auxilia a avaliação dos tecidos pulmonares mais profundos. Pode ser útil nos casos de pneumotórax, consolidação alveolar, tumor, atelectasia, derrame pleural...

A ausculta pulmonar é uma ferramenta diagnóstica valiosa, ela complementa os achados da palpação e percussão torácica. Por ser bem sensível e prática é preferencialmente utilizada a beira do leito durante a avaliação pulmonar.

O exame cardíaco envolve a inspeção, palpação e ausculta. A inspeção e palpação do precórdio ajudam identificar o ritmo das pulsações e a área de pulsação máxima criada pela contração ventricular esquerda. Os sons cardíacos, em indivíduos normais, são criados pelo fechamento das válvulas cardíacas. Durante a contração dos ventrículos as válvulas mitral e tricúspide (átrioventriculares - AV) se fecham produzindo o primeiro som cardíaco (S1). No fim da sístole, os ventrículos relaxam e as válvulas pulmonar e aórtica se fecham produzindo o segundo som cardíaco (S2). As válvulas mitral e aórtica produzem um som mais intenso que as outras.
O terceiro som cardíaco (S3) pode ser ouvido durante a diástole, logo após o S2, ele é produzido pelo rápido enchimento ventricular. O quarto som cardíaco (S4) é produzido pelos mecanismos similares ao S3 só que é mais tardio, ocorre após o S1. O S3 e S4, em adultos, podem estar associados à falência cardíaca congestiva.
Os murmúrios cardíacos são produzidos pelo fechamento incompleto (insuficiência) ou estenose (obstrução) das válvulas.

3. Exame do abdome.

O abdome pode interferir na função respiratória, a inspeção e palpação pode revelar distensão, tensão da parede e dor ao toque. Estes fatores podem limitar o movimento diafragmático e contribuir para a fadiga muscular respiratória e IRpA. Também podem inibir a tosse e a inspiração profunda e favorecer o surgimento de complicações pulmonares como atelectasias e pneumonias. O exame do fígado, no quadrante superior direito do abdome, pode revelar alterações no seu tamanho, ele pode estar aumentado em diversos casos como na falência cardíaca direita.

4. Exame das extremidades.

Através da inspeção e palpação dos membros e extremidades, observamos edemas, lesões cutâneas, coloração das extremidades (palidez, cianose, hematomas...), verificamos pulsos, enchimento capilar periférico, temperatura cutânea, presença de dor a palpação. Avaliamos também a capacidade de movimentação dos membros (arco articular de movimento ativo e passivo e força muscular), avaliamos a atitude postural, o trofismo muscular, o tônus...

A oxigenoterapia pode ser ofertada de formas diferentes. Em UTI, as mais comuns são o cateter nasal de oxigênio e a macronebulização, sendo esta última mais freqüente. Em qualquer modalidade, devemos verificar primeiro a quantidade de O2 ofertada (fluxo de O2 no fluxômetro) e em seguida a umidificação do gás. Os reservatórios destes dispositivos devem conter H2O destilada, de preferência. O cateter nasal recebe umidificação por meio de um sistema de borbulhamento (evaporação) e a macronebulização por suspensão de gotículas de H2O. Devemos checar se os dispositivos estão funcionando adequadamente e se tem H2O suficiente nos reservatórios, caso contrário, resultará em ressecamento e formação de rolhas de secreção. A escolha da modalidade depende primeiro da necessidade de oxigênio do paciente, a umidificação depende do grau de hidratação deste paciente e se faz uso de uma VAA. Os traqueostomizados devem receber um sistema com maior capacidade de umidificação, como a macronebulização.

Para os pacientes que recebem ventilação mecânica, seja invasiva ou não, devemos checar o respirador, o modo e os parâmetros ventilatórios, os limites dos alarmes, a rede de gases, o circuito do respirador e se a ventilação está acontecendo normalmente. Acompanhar a troca gasosa é essencial.
Existem diversos respiradores e modos ventilatórios novos que os fabricantes alegam serem mais vantajosos para casos específicos de IRp. Mas, são poucos os modos ventilatórios que realmente podem fazer alguma diferença mais significativa nas situações de IRp. Mesmo assim, não existe restrição a qualquer modo, desde que se consiga atingir a troca gasosa adequada e conforto ventilatório do paciente sem produzir VILI (injúria pulmonar induzida pelo ventilador mecânico).

Infusões de líquidos e drogas normalmente são administradas através das bombas infusoras. Devemos anotar os tipos de medicamentos e as suas doses. Muitas drogas podem interferir com os objetivos fisioterapêuticos na UTI, devemos ter o conhecimento das suas necessidades e dos limites que temos que respeitar para não atrapalhar a recuperação dos pacientes. Os mais graves e instáveis necessitam de muitos medicamentos, como por exemplo as aminas vasopressoras, estas drogas controlam a função cardiocirculatória. Tratamentos fisioterapêuticos que envolvem aumento da pressão inspiratória ou da PEEP durante a VM ou até mesmo alguns posicionamentos corporais que elegemos, mesmo que momentâneos, podem interferir seriamente na função hemodinâmica destes pacientes e agravar o quadro. Os sedativos e analgésicos podem reduzir o nível de consciência e o "drive" respiratório do paciente e por fim, dificultarem o desmame da VM, mas são necessários para controlar o grau de ansiedade e dor. A recomendação é sempre conversar com o médico e estabelecer juntos as metas terapêuticas para cada paciente.

Fonte: Graig L. Scanlan, Robert L. Wilkins, James K. Stoller. Egan's Fundamentals of Respiratory Care. Mosby. 7th ed. 1999.

Aguardem outras publicações!

Abraços a todos.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Avaliação em UTI. Passagem de plantão (parte 3)

Eu comentei na primeira parte deste assunto, que os fisioterapeutas intensivistas devem melhorar o conhecimento sobre PASSAGEM DE PLANTÃO EM UTI. Para encerrar este tema, convidei um fisioterapeuta intensivista muito competente e professor, o Dr. Rodrigo Queiroz, autor do blog: Mobilidade Funcional que também ajudará a esclarecer este assunto, dando uma visão fisioterapêutica às perguntas que formulei. Recomendo o seu blog a todos.

1. Qual a ordem hierárquica das informações a serem passadas na mudança de plantão?

Rodrigo: Em minha opinião, é preciso inicialmente criar uma linha de tempo enfocando a história clínica do paciente (principalmente se quem está recebendo o plantão ainda não o conhece). Essa linha deve iniciar do dia da admissão do paciente, nome, idade, de onde ele veio, como chegou, intercorrências, co-morbidades, e deixar bem claro o que motivou a hospitalização... Ou seja, situar o colega na condição clínica anterior do paciente. Essa etapa muitas vezes é deixada de lado por nós, mas é de fundamental importância, pois envolve a quantidade de dias que esse paciente está internado (lembramos dos aspectos relacionados à imobilidade no leito), dias em ventilação mecânica, oxigenoterapia, se a não invasiva falhou, ou mesmo se assistência foi rápida e eficiente (lembramos dos aspectos relacionados ao 2° e 3° trauma, que afetam sensivelmente o prognóstico). A continuidade da narrativa clínica em minhas passagens plantão segue um raciocínio quase que céfalo-caudal: cabeça, tronco e membros.

- Nível de consciência e aspectos sedoanalgésicos.

- Aspectos ventilátórios, expansibilidade, ausculta pulmonar, faz uso de que suporte e o porquê, aspectos relacioados a secreção (tipo, volume), tosse, predisposição a atelectasia, terapêuticas implementadas, cuidados especiais (fraturas, osteoporose...), ventilometria, manovacuometria, RX, TC, entre outros. - Aspectos hemodinâmicos – pulso, perfusão, FC, PA, drogas, cuidados e observações se houve instabilidade e o que causou, outros exames, ECG, ECO.

- Aspectos metabólicos e marcadores de infecção - febre, leucograma e hemograma (enfocando coagulação e hemoglobina), hemogasométricos, lactato, antibioticoterapia...

- Aspectos motores – tendência à retração e contratura (qual o músculo ou cadeia muscular?), zonas de pressão, posturas e posicionamentos admitidos, qualidade de transferência, tônus muscular...

- Aspectos nutricionais, psicológicos, familiares...

- O que tem de programação, desmame da prótese ventilatória, das drogas, cirurgias, exames... Treinamento muscular ventilatório...

2. Informações qualitativas e impressões pessoais são mais apreensíveis que as quantitativas?

R: Sou um adepto das estatísticas, gráficos, fórmulas e equações, PEEP ideal... Volume minuto ideal... Entretanto considero de fundamental importância qualificar aquilo que nós vemos, os números são muito duros! Trabalho numa UTI pediátrica, e digo sempre (até escrevo também), criança coradinha, com uma carinha boa, bom pulso e perfusão, boa entrada de ar em ambos hemi-tórax, já está rolando bem, tem dificuldade para ficar sentadinho sem apoio... Isso principalmente quando tenho pacientes neurológicos de difícil desmame, prontuário cheio, 100, duzentos dias de internação, 1 ano, 4 anos!... Estamos lidando com uma pessoa, com um ser humano, que tem família, e não com uma relação P/F que não passa de duzentos!

3. Devemos falar sobre pacientes mais graves primeiro ou seguimos a ordem dos leitos?

R: Em geral sigo a ordem dos leitos. Entretanto, principalmente em pediatria, instabilizar é uma questão de segundos, priorizo esse paciente e coloco ele primeiro na fila... Até como forma de chamar a atenção. Pois se esse mesmo paciente estivesse no isolamento, último leito em minha unidade, seria o último, e talvez o processo de assimilação não fosse tão eficiente quanto.

4. Quando é necessário fazer um resumo retrospectivo do caso?

R: Daniel, isso é algo que sempre chamo atenção dos meus alunos... evoluir um paciente é contar bem a sua história. Algumas informações são facilmente perdidas ou esquecidas no espaço/tempo! Sim, espaço/tempo foi a forma que encontrei para dizer que resumir não é relativo de quantidade de informações no decorrer do tempo e sim de intensidade e importância dos fatos. Por exemplo: vamos imaginar que acabamos de admitir uma criança com cetoacidose diabética, gravíssima, com edema cerebral importante, cursa com edema agudo de pulmão e é intubada, faz um pneumotórax, pneumonia, dificil de ventilar, Peep alta, instabiliza hemodinamicamente, parada...reanima... Isso tudo pode acontecer no mesmo espaço de tempo que gastamos para ler essas quase cinco linhas... O que quero dizer é que, principalmente para pacientes crônicos temos que voltar nos arquivos, e em algumas linhas introdutórias, antes das nossas evoluções, ou mesmo digitando numa folha separada, aspectos relativos a história clínica desse paciente. Mas, existem situações que, mesmo num espaço curto de tempo, são muitas as alterações do quadro clinico, tentativa e erro, diversos problemas associados, que mesmo contando com essas informações na ficha de avaliação e nas evoluções subseqüentes, é imperativo que o profissional, para um bom andamento do serviço, exponha um resumo clinico da situação.

5. A passagem à beira do leito é melhor que a realizada na sala de plantão? Por quê?

R: Gosto de fazer uma pesquinha (tipo um algoritmo norteador), pegar uma prancheta com o prontuário, e fazer a passagem a beira do leito... Discorrendo e mostrando. Acho que facilita a assimilação. Até li algo sobre isso lá no blog do Haroldo Falcão, se não me falha a memória. Entretanto, acredito na passagem de plantão em comum, por toda a equipe. E geralmente, nas UTIs onde isso acontece, pelo menos nas que conheço, isso é feito numa salinha de reuniões e não a beira do leito. Grande abraço.

Muito obrigado Rodrigo pela grande colaboração que deste a este tema. Gostei muito das suas informações, principalmente sobre pediatria em UTI, assunto que lido pouco na minha prática profissional.

A passagem de plantão, como mencionei no fim da postagem anterior, é uma CONVERSA entre dois ou mais profissionais, voltada aos fatos ocorridos com os pacientes internados. Ela retrata, em maior ou menor grau, uma situação nova e única, os dados informados são momentâneos e normalmente não se repetem. Para um diálogo ou conversa, mesmo se tratando de um assunto técnico-profissional, como uma passagem de plantão, não existe um protocolo próprio de realização, cada profissional pode ter uma maneira própria. Porém, como as informações tratadas podem influenciar a evolução dos pacientes, alguns concelhos ou regras pessoais foram muito bem mencionados pelos colaboradores. Por fim, proponho aos leitores uma reflexão profunda sobre tudo que foi dito nestas postagens e que discutam o assunto com profissionais mais experientes.

Agradeço mais uma vez ao Dr. Haroldo Falcão, médico intensivista, pela participação na parte 2 deste assunto e ao Dr. Rodrigo Queiroz, fisioterapeuta intensivista, neste encerramento, seus comentários foram bastante esclarecedores e úteis para nós profissionais intensivistas e aos cadêmicos que estão começando nesta área.

Aguardem novas publicações!

Abraços a todos.

sábado, 21 de março de 2009

Avaliação em UTI. Passagem de plantão (parte 2)

Na tentativa de esclarecer um pouco mais este assunto, formulei algumas perguntas abaixo e enviei-as ao Dr° Haroldo Falcão, médico intensivista e autor do blog: Apontamentos em Terapia Intensiva. Este profissional, além de muito competente, reflete muito sobre questões didáticas e éticas na área médica. Vale muito a pena consultar o seu blog.

1. Qual a ordem hierárquica das informações a serem passadas na mudança de plantão?

Haroldo: Inicialmente o nome e a idade, seguido de um breve histórico no CTI, mas sem entrar nas minúcias de cada um dos problemas do paciente. Seria um histórico com as feições de uma "linha do tempo", como já apresentei em uma postagem anterior. É importante também, a meu ver, apresentar qual a impressão defendida pela rotina médica e sua impressão durante o plantão, que devem ser encaradas como hipóteses a serem testadas a medida que novas informações confirmem ou contradigam o entendimento sobre o paciente naquele momento.

2. Informações qualitativas e impressões pessoais são mais apreensíveis que as quantitativas?

H: Eu diria que elas podem ser mais convincentes...e aí mesmo está o perigo. Voltando à primeira pergunta, não se trata de "vender" a minha ou a melhor visão sobre o paciente, mas em se confirmar ou não as hipóteses elaboradas sobre o caso clínico. O paciente está melhor? Que dados confirmam isto? Ele esta pior? Quais informações objetivas corroboram esta impressão?

3. Devemos falar sobre pacientes mais graves primeiro ou seguimos a ordem dos leitos?

H: Imagino que seria mais apropriado apresentar os mais graves primeiro. Quem recebe o plantão também tem um limite de acúmulo de informações (por exemplo, prestar atenção nas informações sobre o leito 11 não é tão fácil quanto no leito 2, principalmente quando o colega que deixa o plantão precisa sair mais rápido, ou nas passagens de plantão noturno).

4. Quando é necessário fazer um resumo retrospectivo do caso?

H: No meu modo de organizar informações, sempre acho importante uma "contextualização". Alguns pacientes se encaixam em categorias bem conhecidas de quem trabalha em CTI, por exemplo, o paciente demenciado, com sepse pulmonar por boncoaspiração, tratada e revertida, e que está em desmame após traqueostomia...Nesses casos podemos ser mais sucintos mas, não raro, nos deparamos com situações inesperadas que merecem um detalhamento maior. Saber quais informações "compactar" e quais "desenvolver"é, para mim, uma arte...

5. A passagem à beira do leito é melhor que a realizada na sala de plantão? Por quê?

H: O meu sonho é passar o plantão leito a leito, já evoluindo e prescrevendo. Seria a situação ideal de continuidade do fluxo de informações, mas desconheco se alguma unidade opera desse modo. Se existe, gostaria de conhecer. Penso que a passagem à beira do leito - nem que fosse um "sobrevôo" - com as devidas complementações à parte, na sala dos médicos seria uma meta modesta e factível. Mas seja na beira do leito, seja na salinha, vejo os profissionais que passam o plantão como os responsáveis pela manutenção de um eixo narrativo coerente e fiel, com a missão especial e difícil de tornar a informação clara para quem chega. Espero ter respondido a contento as suas perguntas. Fiquei muito honrado e deixo meu abraço e os parabéns ao seu belo trabalho neste blog.

Muito obrigado Haroldo! Gostei muito da tua colaboração com este tema, para mim trouxe exclarecimentos importantes. Espero que os leitores deste blog reflitam sobre estas informações e apliquem nos seus serviços, pois estou certo que elas ajudarão a melhorar muito a maneira de se passar as informações sobre os pacientes de UTI.

Aguardem o encerramento deste assunto na próxima postagem.

Abraços a todos.

domingo, 15 de março de 2009

Avaliação em UTI. Passagem de plantão (parte 1)

Na postagem anterior, falei um pouco sobre a importância da ronda pelos leitos de UTI ao chegar no setor para uma nova jornada de trabalho. Nesta postagem, falarei um pouco sobre a PASSAGEM DE PLANTÃO EM UTI.

Este assunto não é muito discutido pelos fisioterapeutas plantonistas da UTI. Acredito que a principal causa disso seja a pouca quantidade de hospitais públicos e privados que dispõem de fisioterapeutas em período integral neste setor. É fato que plantões integrais contribuem mais na recuperação dos pacientes que os plantões em período de 12 horas ou menos. As vantagens estão no tempo maior de vigilância e realização das atividades fisioterapêuticas e na garantia da continuidade de uma proposta terapêutica discutida no "round", passada de plantonista para plantonista.

A passagem de plantão é a primeira etapa consistente na busca de informações do paciente e auxilia as etapas seguintes, por exemplo: No exame físico, ela pode orientar na busca de achados específicos e no exame complementar, uma busca de resultados ou solicitação de novos exames.

É importante que o plantonista que passa as informações faça um resumo dos acontecimentos no seu turno de trabalho e em alguns casos, ele deverá informar fatos mais antigos para esclarecer uma evolução que não ficou clara. Impressões pessoais e propostas terapêuticas e diagnósticas poderão concluir a passagem de cada caso.

De cara, a passagem de plantão pode parecer simples, mas deve-se ter cuidado, pois informações fundamentais mal passadas ou assimiladas atrapalham o planejamento e a tomada de decisão do plantonista que assume.

Não existe um modelo específico de passagem de plantão, cada plantonista pode ter uma forma própria. Algumas vezes a forma com que um plantonista passa as informações não é muito adequada para aquele que recebe. Informações muito sintéticas, muitos detalhes não fundamentais e interferência com assuntos inapropriados podem prejudicar a formação de uma idéia correta sobre um caso.

Outros fatores que podem atrapalhar são: baixa capacidade de concentração e memorização daquele que recebe, pouco tempo disponível (pressa) durante a passagem de plantão, muita quantidade de informações, interferências de outras pessoas, barulho de alarmes...

Aguardem a segunda parte deste tema.

Abraços a todos.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Avaliação em UTI. Uma observação panorâmica!

Ao chegar no CTI para uma nova jornada de trabalho, antes de receber o plantão, costumo passar em cada leito e fazer uma observação rápida e global do paciente e dos equipamentos destinados ao seu tratamento e suporte de vida.

É possível perceber de imediato: dados da ventilação e da oxigenação do paciente (SpO2), dados da hemodinâmica e FC no monitor multiparamétrico, se o paciente está acordado ou não, drogas infundidas...

Esta primeira visão permite formar uma idéia global do paciente e estabelecer uma prioridade de atendimento e planejamento terapêutico. É claro que esta informação é superficial e deverá ser complementada na passagem de plantão e se necessário até por uma busca ao prontuário.

Esta visão panorâmica facilita a memorização das informações que serão passadas na mudança de plantão e também permite formar algumas perguntas de esclarecimento sobre a situação atual do paciente.

Nos serviços onde não há plantão noturno de fisioterapia, esta passagem à beira do leito, ao meu ver, é essencial. Não é incomum encontrarmos pacientes com desconforto ventilatório por acúmulo de secreção ou mal adaptados nos modos mandatórios quando poderiam ventilar espontaneamente com auxílio pressórico. Tais fatos, requerem intervenções imediatas, caso contrário, poderiam resultar em agravo do paciente.

Na foto abaixo, podemos visualizar alguns focos desta visão panorâmica:


1- PACIENTE: Podemos visualizar o tipo de via aérea artificial, se o paciente está desperto ou não, o padrão muscular respiratório e o trabalho durante a VM (grau de conforto), a expansibilidade torácica (simetria), a coloração cutânea (cianose, palidez), edemas nos membros e face, presença de drenos torácicos, sondas, acessos venosos...

2- MONITOR: FC, PA, SpO2, Tax...

3- TELA DO RESPIRADOR: Visualizamos o modo ventilatório, FiO2, PEEP, FR... Permitem saber a necessidade da assistência ventilatória e da oxigenação (quanto maior, mais grave).

4- INFUSÕES: Sedação e analgesia, broncodilatadores, drogas vasoativas...

Cada centro de terapia intensiva pode apresentar recursos e equipamentos em quantidade e complexidade diferentes. Conhecimento técnico, dedicação e integração multidisciplinar tem muitas vezes valor terapêutico maior que a quantidade e sofisticação dos equipamentos isoladamente.

Aguardem novas publicações!

Abraços a todos.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Bird 6400 - Descrição do aparelho

O respirador BIRD 6400 é fabricado pela Empresa Americana Bird Corporation. Este aparelho também é muito utilizado nos Hospitais públicos e também em alguns hospitais privados no nosso País.

I - APRESENTAÇÃO DO RESPIRADOR

O BIRD 6400 é um respirador microprocessado que dispõe de modos ventilatórios para os pacientes adultos. É um aparelho simples, não dispõe de tela de LCD e também não fornece dados ventilatórios durante a expiração. A programação dos parâmetros ventilatórios é feita diretamente através dos botões no seu painel de controle.

Os modos ventilatórios disponíveis são:

VCV - ventilação com controle de volume assisto-controlado
SIMV / CPAP - ventilação mandatória intermitente sincronizada volumétrica
PSV - pressão de suporte ventilatório


II - VÁLVULAS REDUTORAS DE PRESSÃO E BLENDER (misturador - FiO2)
III - MODOS VENTILATÓRIOS

1- VOLUME ASSIST / CONTR (VCV A/C)
2 - SIMV / CPAP (volumétrico) 3 - PSV
IV - ALARMES E DISPOSITIVOS
V - CIRCUITO RESPIRATÓRIO - MONTAGEM

X - AQUECEDORES E UMIDIFICADORES

X - NEBULIZAÇÃO DURANTE A VM

Aguardem novas publicações!

Abraços a todos.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

INTER 3 - Descrição do aparelho

O INTER 3 é um respirador exclusivo aos pacientes pediátricos e neonatais. Ele é fabricado no Brasil pela Empresa INTERMED PRODUTOS HOSPITALARES.

O respirador Inter 3 dispõe dos modos ventilatórios TIME CICLE (A / C, IMV / CPAP e APRV) e o modo CPAP isoladamente. Estas modalidades funcionam com fluxo gasoso constante durante as fases inspiratória e expiratória programado no fluxômetro na lateral do respirador. A válvula expiratória controla a pressurização gasosa dentro do circuito. Durante a inspiração, a válvula expiratória oclui a eliminação gasosa e com isso a pressão dentro do circuito aumenta, promovendo a entrada de gás nos pulmões. Durante a expiração ela libera pressão gasosa suficiente para manter uma pressão expiratória positiva. Esta característica atende melhor as necessidades ventilatórias dos pacientes pediátricos e neonatais que fazem uso de uma via aérea artificial sem "cuff". Estes modos serão comentados com mais detalhes a seguir.


I - APRESENTAÇÃO DO RESPIRADOR

II - VÁLVULAS REDUTORAS DE PRESSÃO

Estas válvulas são necessárias para o ajuste pressórico adequado ao funcionamento de qualquer ventilador mecânico microprocessado.

III - BLENDER (MISTURADOR - FiO2)

VI - MODOS VENTILATÓRIOS

1- TIME CICLE (A/C, IMV e APRV)
Todos os ciclos ventilatórios no modo controlado são iniciados a tempo, limitados a pressão e a fluxo e ciclados a tempo.


2 - CPAP
VII - ALARMES E DISPOSITIVOS

VIII - MONTAGEM do CIRCUITO RESPIRATÓRIO e TERMOUMIDIFICADOR.

IX - NEBULIZAÇÃO DURANTE A VM

Aguardem novas publicações!

Abraços a todos.