A busca de evidência dos benefícios das práticas na área de saúde não é uma preocupação recente. Há muitos anos, profissionais e pesquisadores estudam os efeitos de diversas condutas terapêuticas em todas as áreas de atuação médica, para isso, estabelecem protocolos baseados em justificativas clínicas e fisiológicas e registram os resultados encontrados. Esta preocupação tem por finalidade avaliar a eficácia dos procedimentos e aprimorá-los, de forma a prover ao paciente o melhor benefício terapêutico.
Nos últimos anos, a prática baseada em evidência (PBE) recebeu um novo conceito e padronização e passou a ser mais difundida pelo mundo.
Os seus objetivos são:
1- Melhorar o cuidado prestado aos pacientes, cuidadores e comunidades;
2- Reduzir as variações das práticas realizadas;
3- Utilizar uma evidência de alta qualidade sobre os benefícios e os riscos;
4- Desafiar a prática baseada na crença em relação à baseada na evidência;
5- Tomar decisões mais transparentes;
6- Integrar o paciente na tomada de decisões;
7- Assegurar que o conhecimento norteie a prática através das atividades de ensino permanente.
Existe uma hierarquia na PBE para fornecer base sobre a eficiência dos tratamentos utilizados.
I- Grande evidência de pelo menos uma revisão sistemática baseada em vários estudos controlados e randomizados com alta qualidade;
II- Grande evidência de pelo menos um estudo controlado e randomizado com tamanho e parâmetro clínico apropriados;
III- Evidência de estudos não-randomizados bem desenhados, grupo único pré-pós, cohort, seriados ou estudos de casos semelhantes;
IV- Evidência de estudos não-experimentais bem desenhados realizados por mais de um grupo ou centro e;
V- Opiniões de autoridades respeitadas, baseadas na experiência clínica, estudos descritivos, ou registros em comitês de consenso de especialistas.
VNI - BASEADA EM EVIDÊNCIA
Tabela elaborada com a colaboração de Alane Bernardo, aluna do 8º período do curso de fisioterapia da UFRJ, acadêmica bolsista do CTI do HCPM / PMERJ.
Referências:
1. Bury T. Evidence Based Practice - an overview. World confederation for physical therapy. 2003.
2. Mehta S, HillNS. Noninvasive ventilation. Am J Respir Crit Care Med 2001; 163: 540-77.
3. Peñuelas O, Frutos-Vivar F, Esteban A. Noninvasive positive pressure ventilation in acute respiratory failure 2007; 177(10): 1211-8.
4. Cheung TMT, Yam LYC, Law ACW, Kong BMH, Yung RWH. Effectiveness of noninvasive positive pressure ventilation failure in severe acute respiratory syndrome. Chest 2004; 126: 845-850.
5. Meduri GU et al. A multiple-center survey on use in clinical practice of noninvasive ventilation as a frist-line intervention for acute respiratory distress syndrome. Crit Care Med 2007; 35: 18-25.
6. Maijd A and Hill NS. Noninvasive ventilation for acute respiratory failure. Curr Opin Crit Care 2005; 11: 77-81.
7. Rocker GM, Mackenzie M-G, Willians B, Logan M. Noninvasive positive pressure ventilation. Successful outcome in patients with lung injury/ARDS. Chest 1999; 115: 173-177.
8. Klein M, Weksler N, Bartal C, Zilberstein G, Gurman GM. Helmet noninvasive ventilation for weaning from mechanical ventilation. Respir Care 2004; 49 (9): 1035-1037.
9- Masa JF e cols. The obesity hipoventilation syndrome can be treated with noninvasive mechanical ventilation. Chest 2001; 119: 1102-1107.
10 - II Concenso Brasileiro de Ventilação Mecânica. Suporte ventilatório Não-invasivo com pressão positiva.
COMENTÁRIO PESSOAL:
É fato que nem todas as práticas na área de saúde podem ser avaliadas buscando-se um elevado nível de evidência sobre a óptica da PBE (ex.: grupo controle, randomização...), a maior limitação está no comprometimento da ética na prática médica. É inquestionável a falta de ética quando separamos grupos de pacientes para avaliação de procedimentos, onde um grupo não recebe a terapia indicada para o seu caso. Os autores de trabalhos científicos e os profissionais de saúde não questionam a importância das meta-análises de trabalhos com grande relevância baseada em evidência, porém não se pode deixar de lado a experiência profissional sobre os efeitos dos tratamentos utilizados. As observações dos efeitos terapêuticos e a troca de experiências muitas vezes são as únicas formas de se constatar o benefício ou não de um tratamento. Nos estudos de revisão de Hess Dean R. The evidence for secretion clearance techniques. Cardiopulmonary Physical Therapy Journal 2002 e Secretion Clearance Techniques: Absence of Proof or Proof of Absense? Editorials 2002:7; 757, o autor constata a falta de evidência de alto nível para todas as técnicas fisioterapêuticas desobstrutiva, porém ele levanta uma questão: "A falta de evidência significa falta de benefício?" Pelo menos para estas práticas ele conclui que não (e eu penso o mesmo). É claro que todo desenvolvimento ou crescimento humano, em qualquer área, necessita de muito estudo e dedicação, não devemos nos acomodar com as constatações imediatas daquilo que estamos observando, sempre que possível devemos colocá-las a prova, questionando os seus efeitos e comparando-as com outras práticas, desta forma nos aproximamos da verdade.
Aguardem novas publicações!
Abraços a todos.
8 comentários:
Ficou muito legal Daniel. Curto porém explicativo no que se propos a dizer. Parabens mais uma vez!
EU TE AMO MUITO, PARABÉNS PELO BLOG!!!!!!!!!!
Daniel, obrigado pelo comentário que vc fez no meu blog, foi mt válido e peço desculpas não tinha me atentado em por o nome do autor das postagens, é que eu tinha acabado de fazer o blog e não tinha nada postado, então resolvi faze-lo pq vi o seu e tomei a iniciativa de criar um. aproveitando a oportunidade quero parabenizar vc pelo seu blog estou sempre por aqui lendos suas postagens.
parabénss
Hoctávio Sá diz: Daniel, vlw mais uma vez... olha queria manter contato com vc... qqr coisa meu msn é: hoctaviosa@hotmail.com
tenho ums projetos para serem desenvolvidos na CTI e queria saber tua opinião, ja que vc trabalha na área...abraxxx
Caro Daniel, inicialmente dizer que és um mago das palavras... tenho apenas dois anos de atuação dentro da fisioterapia e fico feliz em saber que profissionais com mais tempo de prática clínica ainda conservam o “ser acadêmico”...parabéns mesmo, você é um exemplo!!!! Sem dúvida a base para a pesquisa científica vem do empirismo, e sendo assim, são nossas indagações frente ao mundo que nos cerca que são transformadas em problemas de pesquisa e estruturadas metodologicamente para que possamos chegar a conclusões e amparar a nossa prática clínica em evidências científicas.
Assim, e a cada vez mais que comprovamos aquilo que fazemos, fazemos com mais segurança, eficiência e eficácia, contribuindo para um mundo melhor.
Muito acertadamente uma Fisioterapeuta Australiana (STILLER K, Physiotherapy in Intensive Care: Towards an Evidence-Based Practice. CHEST 2000; 118:1801–1813.) levantou algumas interrogações sobre a nossa prática clínica em U.T.I. Agora, caro Daniel, você expõem sobre a importância de basearmos em evidências e ainda problematiza apoiado em outros autores ("A falta de evidência significa falta de benefício?). Gostaria de apimentar ainda mais: Onde estão nossos VERDADEIROS problemas de pesquisa?
Veja bem: quem está na pratica clínica, não tem tempo de escrever e sistematizar o que faz, isso para não dizer que nem sempre é possível fazer o que realmente deveria ser feito (MUITOS LEITOS...OUTRAS ATRIBUIÇÕES QUE FORAM APARECENDO...), e assim, surgir aquela indagação (olha isso funciona..! Isso realmente funciona?). Agora sim, essa indagação ou constatação empírica, ou problema de pesquisa, seria trabalhada de maneira metódica e assim, subsequentemente, tentar-se-ia chegar a uma conclusão mais cientifica, isso seria apresentado, debatido, discutido, talvez reformulado, enrriquecendo a nossa prática profissional.
Mais está faltando atenção à verdadeira fisioterapia...banalizamos um alongamento, posicionamento...não uniformizamos a descrição de nossas técnicas de higiene brônquica – cada um faz do seu jeito...alguns já perceberam que é a associação delas que dá o resultado – (e dá mesmo), mas não descrevemos bem, não levantamos problemas de pesquisa, e assim não conseguimos evidenciar a quilo que fazemos. Desafio: tente fazer uma revisão parecida com a de VNI sobre – TENS, US, TEP, THB, ALONGAMENTO, FORTALECIMENTO, PROPRIOCEPÇÃO....
Daniel, adorei a postagem...como a Thaise disse está curto porém de fácil entendimento para o leitor. Estamos aguardando novas publicações!! hehe PARABENS!
Para animara polémica e a sua reflexão vale apena ver ese artigo publicado no british medical journal:
"Parachute use to prevent death and major trauma related to gravitational challenge: systematic review of randomised controlled trials "
dsponível em:
http://www.bmj.com/cgi/content/full/327/7429/1459
Essa é para você "anônimo"! Eu tenho o artigo da prática baseada em evidência sobre o salto de para-quedas, ele é interessante, nos faz refletir sobre o erro de se valorizar somente a práticas que possuem evidência de alto nível. Não tenho dúvidas sobre a importância da pesquisa científica, seja em qualquer área, sem ela não evoluiríamos nunca. Grande abraço.
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